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domingo, 18 de novembro de 2012

Nos retratos, a 'indelével lembrança' de um tempo


Homero Fonseca é o garotinho desta foto tirada em 1937 na Praia do José Menino, no litoral sul paulista. Ele nos conta que seu pai – o senhor de chapéu, terno e gravata a seu lado – era cardíaco e, por indicação médica, teve de ir a Santos e São Vicente para amenizar sua pressão e “tomar ares iodados”. “Ele então me levou como companhia”, lembra Homero, que vive em Piracicaba, no interior de São Paulo. Os dois conviveram por mais três anos, até que, em 1940, seu pai faleceu. “Na época desta foto, eu tinha 6 anos. E, passadas sete décadas e meia, exatamente hoje estou completando 81.” 20 de agosto de 2012 (http://blogs.estadao.com.br/album-de-retratos?s=piracicaba)

Nos retratos, a 'indelével lembrança' de um tempo

LIZ BATISTA - O Estado de S.Paulo

Nos dias de hoje, tempos em que fotos podem ser feitas e divulgadas em questão de segundos, compreender um retrato do século 19 e do início do 20 é viajar no tempo. É também um exercício de imaginação, onde são revelados os significados particulares do ato de retratar e de ser retratado naquele tempo.

No Brasil, a disseminação da revolucionária técnica da fotografia coincide com o fim do reinado de d. Pedro II, um de seus grandes entusiastas, e com o nascimento da República. No momento em que o novo governo costurava à identidade nacional seu projeto republicano, a fotografia popularizava-se como um produto de consumo. O retrato passou a ser um hábito e uma solenidade entre os cidadãos e famílias dos novos tempos político e social do País.

Os classificados do Estado desse período estão repletos de anúncios de Photografos e Estudos Photographicos buscando conquistar clientes, fosse pela promessa de belos resultados, pelo bolso ou pela tradição. Anúncios de fotografias feitas por meio do processo Lambertypie; Chromo-Photographia; Retratos ao luar, Retratos alabastrados, Retratos de crianças; Photographia Americana, Allemã, Campineira - esta, tradicionalíssima, referia-se ao processo pioneiro empregado por Hércules Florence, em 1833, na cidade paulista de Campinas, e por ele batizado de photographie.

Nesse disputado mercado da imortalização da imagem, um anúncio explicava o valor do serviço e do produto oferecido, o retrato: "indelével lembrança que deixa-se à família ou a amigos, na dura ausência de viagens eternas ou passageiras". Por cerca de 5 mil réis a dúzia, estava à venda a possibilidade de realizar-se o sonho de vencer o indesejável esquecimento trazido pelo tempo.


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