Edson Rontani Júnior, jornalista
Recentemente, numa sala de espera, uma
pessoa manuseava seu smartphone fotografando algumas cenas que por nossa frente
ocorriam. Na piscina de um clube, duas jovens abusaram dos selfies, de forma
frenética, como se a câmara fosse um brinquedo de outrora.
O mercado lançou smartphones de uma forma
tão absurda que acabou criando o efeito da banalização fotográfica. Não que
isso seja errado. Ter acesso aos avanços tecnológicos é uma situação inevitável
e a popularização da fotografia nos remete à instantaneidade tão almejada pelo
homem.
Desde que lançada, a fotografia exigia
habilidade, conhecimento, dinheiro e utilização de máquinas grandes e pesadas. Vale
lembrar dos lambe-lambes e das máquinas fotográficas tipo “caixão” com lente
reflexiva.
A máquina fotográfica virou opção de “bolso”
já nos anos 60, mas se popularizou nos anos 70 e 80 com as nostálgicas
Instamatic da Kodak com flashes descartáveis que conseguiram iluminar quatro “poses”.
Ainda nos anos 70, a instantaneidade veio com a máquina Polaroid. Fotografar e
revelar na própria máquina era algo fantástico. Cabe lembrar que a fotografia
antiga, ainda revelada em papel, demorava dias para que nos fosse entregue, uma
vez que o negativo era levado à loja, passava por processos químicos, ampliado
e depois devolvido. Até tempos atrás era possível assistir este processo das
vitrines de uma loja do Shopping !
A fotografia, desde sua criação, lá pelo
longínquo ano de 1826, sempre foi um artigo de luxo. Era acessível a poucos. Sua
popularização no Brasil veio pela família real através de Dom Pedro II (que aparece na foto acima, com a Princesa Isabel). Materiais
para fotografar e revelar viajavam de navio, da Inglaterra ou da Alemanha. Foi Dom
Pedro quem importou as primeiras máquinas e financiou a vinda de profissionais
europeus como Marc Ferrez (abaixo, foto de sua autoria mostrando o Corcovado, no Rio de Janeiro) ou Louis Compte.
A princípio, a ideia de preservar aquele
instante para o futuro era algo mágico. Houve até quem dissesse que a
fotografia roubaria a alma do fotografado. Sim. Falou-se até que aquilo era
bruxaria.
Antigamente, a foto era feita ao ar livre,
para aproveitar a luz natural. Não era permitido mexer, pois qualquer movimento
borraria o retratado. Daí a questão de aparecermos sérios nos documentos de
identificação. Não há lei que nos proíba de ter uma foto sorrindo no RG, o que
existe é um tabu criado pelo “olha o passarinho e não se mexa!”.
Fato curioso são as “mães fantasmas”,
encobertas por mantos escuros segurando filhos para não borrar a fotografia, já
que eram necessários incansáveis segundos – ou até minutos – sem respirar.
Acima, exemplo de "mãe fantasma" : a mãe sentada, encoberta por tecidos que simulavam um móvel, segurando seu bebê. Veja outras fotos deste estilo clicando aqui
Fotógrafos chegaram a ser coadjuvantes de luxo ao lado das debutantes e de jovens noivos. Os álbuns demoravam para serem ampliados e revelados, angustiando as famílias. Porém, um álbum sempre foi motivo para reunião familiar. Quanta gente não se reuniu ao redor de um deles para juntos ver as fotos, após a macarronada de domingo ? Este, aliás, é outro hábito que caiu em desuso.
Piracicaba teve inúmeros profissionais que
defenderam e defendem esta arte, entre os mais contemporâneos que já partiram Isolino
Nascimento, Henrique Spavieri, Diógenes Banzatto, Lacorte, Cícero Correa dos
Santos... Quantas lojas também nos ajudaram a manter a magia, com suas
revelações ? Bischof, Budasom, Cantarelli, Iris Jetcolor, Outsubo...
Se pegarmos fotos do século 19, notamos que
um dos principais adereços dos “retratos” estava um livro, símbolo da
sabedoria, ícone de que o retratado era de uma casta privilegiada, pois o
ensino ainda não era obrigatório no país, ou seja, acessível a uma pequena minoria.
Hoje a máxima pregada no Facebok : “um dos primeiros astronautas ao pisar na
Lua tirou com muito custo sete fotos; adolescente foi ao banheiro do shopping e
diante do espelho ... tirou 47 fotos fazendo biquinho !”. Não há bastão de
selfie que nos salve !
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