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domingo, 13 de março de 2016

Máquina de escrever





* por Edson Rontani Júnior, jornalista

   Recentemente, me deparei com um equipamento, que em muito participou de minha vida, o qual pensei estar legado ao passado. Fui ao Posto Fiscal do Estado, situado no antigo Fórum da rua do Rosário e lá encontro uma máquina de escrever sobre uma bancada. Por incrível que possa parecer, ela estava acorrentada ao apoio da bancada. Pensei comigo que, por ser peça de museu, pudesse ser cortejada pelo amigo do alheio ou, quem sabe, já possua um valor inestimável que faça crescer os olhos diante de tal preciosidade composta por metais e plástico.
   Noutro dia, visitei um despachante e notei que pelos menos quatro máquinas de escrever estavam lançadas ao longo de um extenso balcão. Bom … a partir daí, mudei meu conceito. As máquinas de escrever ainda fazem parte de nossas vidas!
   Ao longo do século passado, as máquinas de escrever eram essenciais não apenas no mundo corporativo, como também nas correspondências, nos acordos comerciais, nos trabalhos escolares na intenção de substituir o manuscrito e dar um toque sofisticado aos documentos.
   Confesso que faço parte de uma geração que ser orgulhava em ganhar uma máquina de escrever de presente no Natal. Saber datilografia era um passo para reconhecimento profissional. Era exigência de mercado. Diploma de datilografia e carteira de habilitação eram passaportes para iniciar uma profissão.
   Quando a informática começou a tomar volume, nos anos 1990, a máquina de escrever foi perdendo espaço para os desktops, scanners e impressoras. A máquina de escrever podia ter a habilidade de uma impressora com a utilização do papel carbono (daí o CC – cópia carbono – dos e-mails), sem a possibilidade de corrigir o que se escrevesse errado. O surgimento do corretivo foi uma dádiva aos datilógrafos que não tinham de, digitar, digo, datilografar tudo de novo.
   À máquina remete qualquer um ao cheiro de graxa, aos dedos sujos por trocar sua fita vermelha e preta e aos palavrões quando os caracteres enroscavam. Aliás, o modelo qwert é um padrão que precisa ser repensado. As teclas da máquina de escrever não seguiam a ordenação alfabética pois quando se datilografava, o mecanismo iria proporcionar homéricas enroscadas dos tipos. Aí criou-se este sistema, hoje propagado como qwerty (com Y ao final), nulo quando digitamos com os polegares nos smartphones.
   Aliás, a máquina teve influência do padre brasileiro Francisco João de Azevedo, que a apresentou em 1861. A história relega o invento ao exterior, onde foi patenteado primeiro. Algo como ocorreu com os irmãos Wright e Santos Dumont na criação do avião.
   Como peça de museu, uma notícia que remonta à nostalgia. A máquina de escrever volta inclusive a fazer parte do serviço secreto de vários países europeus. Depois do vazamento das informações pelo Wikileaks, Rússia e Alemanha gastaram fortunas para comprar as máquinas de escrever para seus agentes. Acreditam que o mundo off line é mais seguro que a aldeia globalizada perpetuada por George Orwell e Marshall McLhuan.
   Isso me faz sentir mais moderno e pouco antiquado .... 

(Artigo publicado no Jornal de Piracicaba de 11 de março de 2016)

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