Páginas

domingo, 4 de setembro de 2016

Jornalistas escrevem com as mãos ?

* Edson Rontani Júnior – jornalista pós-graduado em jornalismo contemporâneo

Recordo-me de quando ainda cursava a graduação em jornalismo. Fiz, na ocasião, um trabalho referente às reações dos órgãos de repressão no Brasil durante os anos 70. Um dos estudos apontava para um jornalista que teve quebrados os dedos das mãos por ter publicado uma matéria contra os interesses da ditadura. Seria uma lição para que ele nunca mais se prostrasse diante de uma máquina de escrever e dedilhasse sua ferocidade crítica em novas matérias. No dia seguinte, o mesmo jornal publicou uma matéria na capa de autoria do próprio jornalista com o título : “Será que eles pensam que jornalista escreve com as mãos?”.

A manifestação do editor torna claro que os dedos do jornalista servem como extensão do cérebro, o centro do pensamento humano. Que o diga a ciência a qual criou tecnologia para pessoas acamadas se comunicarem com o movimento das pálpebras ou de músculos faciais. Ou, ainda, Stephen Hawking, físico britânico, acometido por esclerose amiotrófica, há décadas preso em uma cadeira de rodas, que escreve livros, através de óculos infravermelhos e, pela movimentação de certos músculos da face, consegue ordenar letra ou palavra para se expressar.

Na Rússia, o espancamento de profissionais da imprensa é exemplar. Em novembro de 2014, Oleg Kashin teve pernas, mandíbula e dedos esmigalhados por barras de ferro para que, como jornalista, não pudesse andar, falar e escrever. Kashin escreveu uma série de matérias sobre uma floresta a ser derrubada para dar espaço a uma rodovia. De 2005 a 2010, a Rússia liderou mundialmente o ranking de atentados contra jornalistas. Foram mais de 100 ações contra funcionários, donos de jornais, dentre elas 50 mortes. O leste europeu é manchete constante nos jornais, por reações a matérias jornalísticas que ferem interesses de poderosos.

Já na China, o índice de caça aos escritores é nula, pois poucos ousam se confrontar com um governo repressor. Nos Estados Unidos, a crítica é constante e respeitada. Tem seu poder consolidado diante da sociedade.

Escrever o básico ou ir além dele confronta-se em muito com o olhar comercial, e, muitas vezes, fere ascensões em carreiras profissionais. Desde que lançada comercialmente nos anos 90, a internet tornou-se uma nova forma de comunicação. Não é considerada confiável, a exemplo do jornal ou da televisão. Mas, é democrática. A crise denominada de “primavera árabe” motivou um corte total à internet em países como o Egito. É a forma mais atual contra a expressão. Antigamente, perseguia-se aquele que falasse demais, hoje, tira-se o cabo da parede e perde-se contato com o mundo. Que o diga Julian Assange, criador do WikiLeakis.



Nenhum comentário: