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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Os 20 anos do celular



* Edson Rontani Júnior, jornalista

  Seria difícil imaginar que tudo caberia na palma de nossa mão. A televisão, o aparelho de som, o cinema, o telefone, a máquina de datilografar... Tudo isso unido no smartphone, ou o telefone celular que há 20 anos foi implantado comercialmente no Brasil. Trouxe tantas facilidades que se tornou objeto de desejo, de consumo, de ostentação assim como foram nos anos 80 o relógio de pulso com calculadora, a lapiseira com grafite e o toca-fitas de carro acoplado a um equalizador.
   Quando se fala que o aparelho de som ou o cinema cabe hoje na palma da mão, não é mentira. Até o início dos anos 80, o filme em 16 mm ou o Super 8 eram a diversão das famílias que se reuniam na sala da casa, apagavam as luzes e assistiam filmes no período pré vídeo-cassete. Época em que o aparelho 3x1 ocupava um volume considerável na sala de estar ou no quarto além de que eram necessários largos espaços para acondicionar os LPs.
   O celular foi inventado por Martin Cooper, engenheiro da Motorolla, em 1973. Demorou muito para se popularizar pois o ser humano não descobria a tecnologia para torna-lo consumível, ou seja, barato para cair nas graças do consumidor. Os primeiros aparelhos funcionavam ligados aos veículos que por sua vez eram estações móveis que enviavam sinais para algum ponto fixo. A tarifa era um absurdo.
   Em meados dos anos 1990, a Telesp inicia seu processo de expansão, criando células em todo o estado de São Paulo. O telefone ainda era visto como concessão pública. Em Piracicaba, como em todo o estado de São Paulo, eram feitas inscrições e sorteios dos números. Nada igual ao que hoje temos numa situação em que você vai a uma loja e já sai falando no aparelho. Me lembro que a fila de inscrição era quilométrica. Algumas vezes eram feitas no Ginásio da Esalq para atender a demanda de interessados. O sorteio era feito em locais grandiosos como o Clube Coronel Barbosa, a exemplo do que ocorre hoje com o sorteio de casas populares por vezes realizados no Estádio Barão da Serra Negra. Fazia-se a inscrição, torcia-se pelo sorteio e depois rezava-se pela habilitação do serviço no aparelho. Aliás, aparelhos eram os famosos “tijolões” da Motorolla que necessitava puxar a antena e abrir o bocal. Era pesado e quem não levasse consigo uma bateria reserva poderia não ter o aparelho funcionando.
O ministro da comunicação Sérgio Motta, falecido em 1998, falava que “o brasileiro, um dia, vai entrar num supermercado e sair falando em um celular”. Deu no que deu. Hoje há uma oferta assustadora no mercado e uma busca incessante por este aparelho antes confinado para conversas familiares, recordações com os entes queridos e para ouvir tristezas ou alegrias. Servia também para namorar, apenas para ouvir as vozes das pessoas e a rede social de então era restrita aos bares, restaurantes, aniversários ou almoços de domingo.
O telefone servia para prender as pessoas em casa, pois até os anos 70, muito antes da criação do DDD (Discagem Direta a Distância) era preciso pedir à telefonista que completasse a ligação. E isso não era imediato. Você tinha de ficar o dia todo esperando a telefonista retornar para completar sua ligação e aí sim conversar com aquele parente distante ou nem tão distante assim, mas que poderia estar em São Paulo, por exemplo.

Hoje, com tanta tecnologia, é possível pegar o celular e ligar instantaneamente para Donald Trump, em Washington. Não é verdade? Se ele vai atender ... aí, já é outra história ...

(Publicado no Jornal de Piracicaba, edição de 22 de fevereiro de 2017)


Comercial da Motorola anunciando o primeiro celular comercial - Dyna TAC

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